Wednesday, March 26, 2008

Ensaio, parte 1

Acordei hoje a prescrutar os cantos da janela grelhada pelo ferro, meio sonâmbulo, ainda adormecido, em estado de semi-consciência. Sentia o corpo entorpecido pelo despertar matutino, como gostaria de ter sentido o raiar do solo a bater no rosto. Á medida que despertava começava a ganhar o sentido de onde estava, porém continuava a não saber como lá tinha chegado na noite anterior. Ainda sentia as nauseas, detectava-se facilmente o hálito a alcool e aquele sofá, naquele momento dava-me todo o conforto que poderia pedir.

Uma beata de cigarro estava num dos cantos do cinzeiro, pedia que fosse novamente acesa de forma a ser consumida até á restia do filtro. A lareira permanecia acessa, - deveria de ter dormido pouco, umas duas horas, - o televisor emitia um daqueles programas publicitários próprios de horários tardios. Estava gordo, conseguia sentir o peso da barriga sobre a coluna, camisa de fora das calças, com algumas manchas de comida, as calças emarrutadas e com a fivela do cinto solta, a gravata tentava-se desprender do colarinho amarelo da camisa. A cara feia, com barba por fazer, o cabelo seboso a pender-lhe para os lados da cabeça, podia ser facilmente confundido com qualquer outro rosto da multidão, - a verdade é que o mundo dos sebosos está em crescente. A casa reflectia a sua imagem, as paredes, outrora de tinta branca eram agora algo amareladas, os moveis cheios de livros que ele nunca leu estavam carregados de pó, a banca da cozinha era um lugar propicio para se ser contaminado com qualquer doença infecciosa. Resumindo de forma sucinta, todo o apartamento era um lugar propicio para se apanhar alguma doença infecciosa.

1 comment:

Anonymous said...

Bom texto campeao