Saturday, December 04, 2010

A conduzir coincidências paradas

Está quieto e vai dormir, tens uma mulher bela à tua espera na cama. São 9 menos um quarto de um sábado e ainda não pregas-te olho desde o meio-dia da sexta-feira preguiçosa, vivida tranquilamente. Está bem, mas deixa-me só acabar este texto e depois vou dormir...

Diálogo interno, que se repete e me aborrece quando a tranquilidade se instala. Não interessa, não interessa mesmo serem 9 da manhã de um sábado e ainda estar acordado, porque hoje sigo as palavras de Byron, hoje não morro mais. Fumo mais um cigarro e mais uma golada na garrafa de whisky que já passa de meio, cria-se algo e mata-se as células nervosas do pensamento, porque esta é a ordem natural da existência. Tal como é o amor entre irmãos que afinal são amigos e entre amigos que afinal são irmãos. Escuta-se atentamente o nascer do sol, cheira-se os raios que incendeiam o céu negro, vê-se a ordem rotineira e matutina do vaivém espacial de passageiros em todas as direcções quanto possam ser transportados, quantas mais houvessem mais perdidos neste mundo tentariam encontrar o seu caminho numa valeta escondida que é esse transporte de alma atroz e penitêncioso quando só apetece é morrer de overdose: tão rápida e dorida como a vida.

Escrevo, porque o amo fazer, é a maior projecção mental dos pensamentos, uma trip de ácidos descarregados em simultâneo. É a última coisa que se poderia fazer, mas é o que faço, porque sinceramente há algo de superior aos esquesitismos apontados e consagrados. Esta é a linha de corte entre a igualdade podre e a verdade dormente. A barriga tem fome, o corpo tem fome, a mente tem fome... de pensamento, de prazer, de carne, de beleza, de conhecimento & de verdade. Cito Thoreau, London... e sou eu, e somos nós todos deste mundo.

Vivam bem!, enquanto eu vou fumar o tabaco dos imortais e já volto...

Sunday, November 07, 2010

Incompleto

Vidas...
O limbo permanente entre a decisão, porque no fundo é isso mesmo que a vida é, um conjunto de decisões que aprendemos a viver. Vivemos todos numa desgraça com muito de vitima, em que gostamos de acreditar que não detemos qualquer poder sobre o destino. Somos as peças de xadrez, as primeiras a caír, os peões que nunca decidem nada. Acordamos adormecidos, vivemos adormecidos, voltamos a adormecer adormecidos. Há sorrisos que se trocam, há outros que apenas visualizamos e que gostariamos de ter a coragem de os exprimir. Porque somos reprimidos, embora gostemos de pensar que somos livres. Ahh, grande Goethe, o verdadeiro erudito que afirmou que os maiores escravos são aqueles que acreditam que são livres. Livres? Como se essa palavra existisse de alguma forma no tempo, no espaço, na realidade...

Todos os dias são uma recriação fantástica da obra de Sam Mendes, todos os dias são uma beleza americana. Todos os dias as mulheres sentem-se reprimidas no casamento que vivem e querem ter um pouco de aventura, todos os dias o ponto alto dos homens é quando no banho se masturbam e de seguida respiram bem fundo para viverem mais um dia no inferno, todos os dias os adolescentes são apanhados numa rede à qual lhes escapa o controlo e vivem a boiar num mar demasiado agitado para eles. Todos os dias, todos os dias, todos os dias...

Prometemos fazer coisas novas, caímos na ilusão de que daqui a 2 anos é que vamos viajar, que daqui a 1 ano começamos a ter uma vida melhor. Promessas vãs, como o fumo de uma jarra de incenso que se balança no ar...

Wednesday, October 27, 2010

Donum Ira

Há um determinado sentido de controlo quando nos encontramos fechados dentro da nossa cabeça, trancados nos nossos pensamentos, que deambulam pela mente como fumo de cigarro pelo ar numa noite fria de inícios de primavera. Hemmingway escreveu que um escritor não se senta à frente de uma máquina e escreve, um escritor pega numa caneta e sangra. Um pensador nem sequer produz algo, apenas sangra até ficar seco como um cadáver sentado na sua poltrona enquanto devora whisky e fuma cachimbo. Curiosamente há mais vida nisso, do que propriamente em andar tão inseguramente pela vida que se bate com a cabeça nas paredes e se continua a caminhar até um deles ceder primeiro.

Quando escrevo há sempre uma certa luxuria envolvida, algum objecto de fascínio e é fácil criar um, contudo não o considero suficiente, porque a minha escrita é um tanto sombria para se dar ao prazer de apenas ser rodeada por um objecto, por um único actor principal. A minha escrita é como uma mulher nua deitada em cima de uma cama de lençóis brancos, que lhe tocam levemente nas pernas, com os lábios carregados de um batôm vermelho e com o cabelo a esvoaçar pela entrada de ar de uma noite amena. É o olhar que penetra na alma como veneno, são os redondos seios que por si só são um facto de admiração, é todo o corpo que parece ter sido moldado perfeitamente como a magistratura principal do quadro, de fundo escuro e apenas um holofote sobre essa deusa. Estilo Caravagio. Negra e profundo, poderosa e acolhedor. É uma serpente que me deixa viciado no perfume do seu veneno.

Numa simples frase descrevo a minha escrita, o meu ser, o meu pensamento. Nos anos 60 Malcolm X disse que a raiva era uma dádiva. Tal como é a raiva é a dor, porque uma não coexiste sem a outra. A dor é uma dádiva. Pode-nos destruir, mas deixemos que ela cresça dentro de nós, canalizando-a e deixando-a crescer e verão que algo de verdadeiramente poderoso acontece. É um veneno, é uma mulher negra de lábios pintados de vermelho numa noite de sonhos...

Sunday, October 17, 2010

P. Vo.1

A profunda dor no peito que se sente
Sempre que nos sentimos sós,
Oh, que tormento, que desavença do espirito
Que não me deixa sonhar hoje

A solidão, que marca o tic tac do cúcu
O esvoaçar que nos indica
Q' a mais nobre das almas
Voará para sempre, e não regressará

Mas isto é viver
Chorar, rir, sentir, respirar e morrer
Não há que temer a solidão, pois...
Só lá os lobos que alimentamos nascem

Saturday, October 09, 2010

A dor é um prazer

A dor. O que é? Falando em termos científicos é uma reacção química do cérebro, mas honestamente desde quando é que alguém quer saber do cientifico? Dor & Prazer andam mutuamente de mãos dadas, como dois meninos homossexuais, sem os quais não poderíamos passar. Lógico, que quem ler isto vai dizer que odeia a dor, mas a verdade é que quando não a têm vão procura-la, eu sou o clássico exemplo disso mesmo. Nada, mas nada neste mundo me pode causar tamanha dor como aquela de que quando escrevo, e mesmo assim todos os dias pego numa caneta e num papel e escrevo. Cada vez que começo a escrever sou Miguel Ângelo a pintar a cúpula da capela sistina, quase um deus. Mas só aqueles que escrevem através da dor é que irão perceber o que eu digo, não há nada pior do que abrir a tampa de uma caneta, folhear o bloco até uma página em branco e não vir nada à cabeça. Nada. Vazio total e completo. Sentimo-nos estúpidos, tão estúpidos como os cães que cheiram o rabo uns aos outros, cada vez que tento escrever e não sou capaz de escrever cinco linhas com o mínimo de sentido sou um cão a cheirar o rabo a outro.

Há quem escreva por alegria, simplesmente não sou capaz... As mulheres são escritoras fantásticas comparadas a qualquer ser que tenha um apêndice proeminente no meio das pernas. É algo que não consigo perceber, mas escrevem com uma facilidade incrível, elas não precisam de todos os dias escrever alguma coisa e eu preciso, nem que seja um post-it no frigorífico a dizer "Mãe não venho jantar". Podem passar meses sem escrever, mas quando o fazem imprimem-lhe uma poetização e uma beleza, que para eu o conseguir tenho suar das palmas das mãos e tomar dois Xanax's para me acalmar, ou então só irei conseguir dormir daí a duas semanas.

Eu sei que escrevo bem, mas não é um dom, para quem me conhece basta olhar para o meu dedo médio da mão direita e vão perceber o porquê de eu ser um Miguel Ângelo a pintar o Vaticano de mulheres nuas enquanto escrevo.

Monday, April 05, 2010

Transit Gloria Mundi

Não é muita, mas é alguma.

Vou tentar o impossível, transferir para texto com a mesma clareza com que penso. Julgo estar mais uma vez perante uma tarefa impossível, sempre...

Vive de acordo com os teus medos, não para que eles te parem, mas sim para que os consigas vencer e vive sempre a um passo mais próximo do precipício. Fala, sê o mais sociável que possas ser. Acredita quando te digo que a experiência mais gratificante que se pode ter é a de partilhar, não há nada com partilhar os nossos sentimentos com alguém, principalmente se é alguém que nos tem bastante significado. Contudo sê verdadeiro, diz sempre aquilo que pensas, mesmo que tal possa ofender os outros, é melhor isso do que não seres verdadeiro contigo próprio. Leva a honestidade até ao limite, é parte de ti, é o que tu és e acredita que é uma arma muito mais poderosa do que qualquer jogo de espelhos que possas usar.

O maior erro da minha vida? Foi o de ter levado quase 20 anos a vida demasiado a sério. Erra, sem medo, sem olhar para as consequências ou chorar aquilo que se perdeu no processo, aprende-se a errar, só assim conhecemos o verdadeiro caminho, porque apesar de ténue há uma grande diferença entre caminhar e apenas conhecer o caminho. Sê orgulhoso do que és, porque todo o direito do mundo te assiste. Não leves as pessoas demasiado a sério e não tomes as suas acções como agressões ao que és, porque nós nada somos e no fundo somos tudo. Sorri, porque é a arma mais sedutiva que podes ter, não há nada como sorrir apenas porque se está feliz. Falando em feliz... a felicidade não é algo exterior, é algo interior, algo que ao contrário do que as pessoas te dizem pode ser permanente, pois basta quereres. E quanto ao levar a vida demasiado a sério... considero que apenas os homens muito sábios ou os idiotas é que o fazem. E como eu sou um mero aprendiz da vida, e já deixei de ser idiota à muito tempo, aprendo a viver a vida porque é a coisa mais importante que tenho e também a única que tenho. "SIC TRANSIT GLORIA MUNDI", e assim se vai a glória do mundo... com um sorriso na cara, sempre!

Sunday, February 21, 2010

Serenidade

Ele seria capaz de morrer para voltar, voltar de novo à vida das pessoas ditas "normais", mas ele sabe que não pode. Gostava de morrer, sentir-se a ir e então ser mais um perdido entre a multidão, mas tanto eu que escrevo isto como ele sabemos que tal nunca irá acontecer, a existência dele está há muito perdida. Não lhe é possível viver e por conseguinte também não lhe é possível morrer. Por detrás do cabelo negro que lhe cobre a testa, prestes a tocar-lhe nos óculos está um homem, o mesmo que se esconde por baixo da camada de barba que lhe afeita a cara e dos olhos verdes, demasiado azuis para o tom de pele dele. Estendido, prostrado como um leão derrotado na relva, olha o céu negro da noite calma e tranquila, chega mais uma vez o cigarro à boca no meio de ligeiros vómitos provocados pelo álcool e pela tosse compulsiva que está intimamente ligada a ele. Ao menos se também a foice também pendesse pelo seu pescoço como aquelas estranhas convulsões de ar.

A cabeça não para, demasiado atormentada por fantasmas de vidas passadas. Rodopia. Gira. Encontra-se em divagações que talvez em tempo fizessem sentido, mas que hoje não são mais do que castelos de areia à beira mar, sujeitos ao que o mar lhe reserva. Se ao menos tivesse feito as coisas de forma diferente, se ao menos tivesse encontrado na essência dele a resposta que precisava. Perdido em jardins de minotauros, prestes a ser devorado pela besta carnifícina que todo quer. Tudo foi demasiado. Nisto o a brisa quente de uma noite de Verão acaricia-lhe o rosto, a pele estragada pelo tempo, áspera... Tenta levantar-se, crava as botas na terra, cambaleia, a visão diminui-lhe, as calças dirigem-lhe uma dança que este não consegue acompanhar, faz dele próprio uma corda, ata-a e dá-lhe um nó, a gravidade faz o resto. Mal abre os olhos, mas sente que tem a cabeça pousada em algo duro. Espreita sobre o seu próprio corpo e vê a pequena colina onde estava deitado. Arrasta-se até um banco de jardim, não se senta neste pedaço de ferro retorcido porque a pouca consciência que lhe resta apercebe-se que não o irá conseguir. Encosta-se a este, as pernas estendidas no chão, os braços que se abraçam sobre si mesmo. Tenta encontrar o seu casulo, rasteja para dentro do seu corpo, para o seu inconsciente, tem uma dor forte na cabeça. De facto uma linha rasgava-lhe a cabeça, ensanguentando os seus cabelos, esses mesmos que lhe tapavam os olhos, pingavam agora gotas vermelhas. Talvez o fim estivesse perto. Ouvia algo, um som metálico. Um clarão projectou-se sobre os seus olhos, deixava-o cego, talvez isto fosse mesmo o fim. O clarão, o som metálico e agora, agora... algo lhe tocava. Não, não era o sangue, mexia-se com demasiada delicadeza para ser parte dele, parte de um homem rastejador.

Tinha deixado de haver escuridão, tudo acima dele era claro, ouvia vozes, algo continuava a percorrer-lhe a cara. Era este o som dos anjos, afinal tinha conseguido, da maneira mais estúpida, da forma mais ridícula possível tinha vencido. Crescia nele algo que não sentia desde que se lembrava, antes da rua, das viagens sem regresso, do tempo em que não teria mais que 17 anos, do tempo em que perseguia raparigas, das mais belas que conhecia, antes do cabelo lhe tapar a testa, antes da barba lhe dar aspecto de... de... do que ele era um pedaço de lixo humano. Mas agora não, agora era livre, leve como uma pena, a serenidade que em tempos conhecia, a felicidade. Será possível? Sentia felicidade dentro dele? Sim, agora que batera todos os deuses, todos os protectores agora que se encolhia sobre si mesmo, agora que seria livr.... PUM! Que barulho foi este? O que aconteceu? A dor de cabeça estava de volta, mas mais fraca. Algo molhado á volta dele, mexeu os dedos e sentiu. Sentiu a relva molhada de uma noite sobre ele. Passou essa mesma mão pela cara e uma borboleta voou em direcção ao sol, esse sol que o estava agora a cegar com a claridade. Mas então... levantou a cabeça e viu o camião dos lixeiros a desaparecer nas ruas daquele parque público, o barulho metálico... Mais morto que vivo, aliás, nem uma coisa, nem outra. Um desgraçado. Caminhou até casa, abre o portão duas vezes maior que ele, sobe umas escadas de pedra... não tem chaves, vai pela porta das traseiras... percorre a casa... senta-se na cama... acende o pouco de cigarro que lhe restava que dormitava na mesa cabeceira. Dá um sopro espalhando fumo no ar, tem a sensação de estar a espalhar a sua própria alma no ar... estica o braço e debaixo da cama tira uma garrafa de whisky, bebe demasiado, demasiado rápido, demasiado para queimar o que lhe vai na alma, na cabeça, no corpo... Caí na cama, fecha os olhos e no segundo a seguir adormece. Na mesma mesa cabeceira de onde tirou os cigarros repousa um papel, uma fotografia e um pincel. Papel de óbito espiritual, carta da mulher, ou ex-mulher, comprovativo do tribunal que diz entre as linhas: "Tal como ficou provado em tribunal, no dia tal, do mês tantos, ano 200... a Sra. B. G. F-B. ( ex. Sra. B. G. L. ) ficará com metade dos bens, tal como estabelecido de acordo a lei. Estão neste momento oficialmente divorciados." Facada mortal. A fotografia, fotografia dos pais, ambos tal como ele desejaria estar, enterrado, perdido nas camadas de terra. O pincel óbito, certidão de óbito de ele mesmo, quão mais tempo aguentará assim? A respiração continuava compassada, assusta-se, as pernas chocam com a garrafa de vidro que entorna por todo o chão do quarto, continua tranquilamente a dormir absorto nos seus pesadelos. Que descanse em paz, ele sabe que se não conseguisse dormir já teria enlouquecido. Acredito que haja alguma parte daquele pedaço humano que se encontre ainda vivo, com vontade de assim continuar...

Wednesday, February 17, 2010

Preto e branco, escrita de papel

Foda-se Cristo, Alá, Buda e a equipa toda de deuses, semi-deuses, profetas e comentadores da bola. Inoperância realizavel através da doce busca do prazer venenoso de uma serpente, uma cobra-de-coral, rezemos para que seja uma falsa, senão já estou morto e ainda nem dei por isso. Deus um dia permitiu que viesse ao mundo e disse: "faça-se luz sobre a terra, bem aventurados sejam os homens entre aqueles..." e mais uma série de blasfémias dirigidas contra o próprio. A vida, as vezes, faz-me lembrar a route 66 dos Estados Unidos, ou aqui em Portugal qualquer estrada nacional toda esburacada no meio do Alentejo que acontece ser uma recta enorme. Sim, não considero que a vida tenha curvas, agora que está cheia de buracos está.

Voltei a escrever, não de forma inteligente, porque graças a todos os santos nunca o soube fazer, mas o que me importa é que voltei a escrever.

A barra do rectangulo de texto que me indica onde irá cair a próxima letra paira á minha frente. Aparece e depois desaparece, sempre no mesmo lugar se não lhe tocar. Pouco misterioso, pouco enigmático.

De tempos a tempos perco-me, perco-me em mim mesmo, mestre do destino que se conduz por essa enorme recta alentejana a que chamemos: vida. Já li algures, num desses livros de New Age que estar perdido significar evoluir. Se é verdade ou não... não sei, sei sim que o sentimento é exactamente o mesmo de quando nos perdemos em algum local que não conhecemos, só que desta vez não podemos perguntar ao policia preguiçoso, nem consultar o GPS. Temos mesmo que estar perdidos: engolir em seco, tentar clarificar a mente enquanto nos tentamos recompor de um tornado mental, rodopiar em vortexes mentais e talvez não emocionais.

Há toda uma magia nisto, um tanto ou quanto poética, será permitido armar-me em deus e poetizar toda o cenário mais um pouco? A luz fraca do candeeiro pende sobre a secretária, ou o que resta dela. Um copo de whisky na mão apoiada num dos braços da cadeira, a barba por fazer, um chapeu á cowboy a descair sobre o cabelo sujo e escuro, parece até que desliza, que pode cair-lhe da cabeça a qualquer momento. No canto da boca um charro de erva, as botas texanas impecavelmente sujas e desfeitas, as calças parecem-se com um trapo que rebolou em terra durante dias, a máquina de escrever no colo e no cabeçalho apenas "Para ti querida...", - presumo que me antecipei, deveria de ter deixado o sujeito escrever o nome da sua querida -, na mesinha ao seu lado, linhas branca e castanhas dançavam sobre o vidro, limão, colher, isqueiro, uma seringa a beijar o braço, o olhar gazeado, a boca entreaberta e espumosa, a cabeça a pender para a frente sem vida como... como se fosse cair que nem um martelo sobre a máquina de escrever.

Poetização do imaginário de um perdido que se encontra no meio de outros perdidos, mas pensam andar no caminho, não porra! Um perdido, poeta de imaginários, que se tenta encontrar numa terra de gente perdida que nem sabe que o está. Assim sim, era isto que queria dizer.

Roleta Russa. Dados. Ases de Espadas. 3, 2, 1.... e dá um murro em si mesmo. 4, 5, 6 dá a última passa neste enorme charro que é a vida. 7, 8, 9... 10 estou a encontrar-me no meio dos olhos gazeados do cowboy escritor...

Friday, January 29, 2010

Howard Zinn, historia desde 1922




É pena, uma verdadeira pena um dos maiores historiadores do século XX ter morrido à dois dias atrás, dia 27 de Janeiro de 2010, falo claro de Howard Zinn, o escritor do conhecido livro "A People's History of the United States", fez um trabalho fantástico como historiador dando a conhecer a quem analisar o seu trabalho uma nova perspectiva sobre a história da nação mais poderosa do mundo. Howard Zinn figura agora na lista dos grandes do século XX, que infelizmente mais já não se encontram entre nós. É um prazer conhecer algum do seu trabalho.

Monday, January 18, 2010

Fotocopias em branco

Em certos dias nada é certo e muito menos nada é o que realmente é, tudo passa por uma cópia de uma cópia de uma cópia, um estado permanente de sonambulismo. Luzes que são as outras luzes, o conta kilometros a bater os 100, a chuva continua e tão fina como alfinetes espalha-se sobre o para-brisas. Um carro, que é o carro que passei há 20 minutos atrás, é tudo uma copia de tudo o resto. Poucas coisas escapam à monotonia de um dia, sentado a ler imperadores que se prostituíam e seguiam a lei metrossexual, ler telenovelas de há 2000 anos atrás. Rodeado do som abafador e sufocante de um aquecedor de ventoinha, doentio até. Põem-me é a mim doente, tudo isto antecessor das luzes rápidas e de caixas de fosforo conduzidas a alta velocidade. Tudo uma cópia. A dificuldade em respirar, parece que tenho um colete de forças amarrado á volta do peito e que em breve vai parar de me deixar respirar.

Os braços estão dormentes, preguiçosos e sem energia, o dedo grande do dedo, o que serve para mandar á merda as pessoas que o merecem está lesionado, nem consigo pegar numa caneta. A respiração ofegante, os olhos atrás dos óculos de designer italiano querem-se fechar, mas há ainda mais umas décadas de novela para ler. Parece que nada existe, que tudo é em câmara lenta os reflexos, a dor, a felicidade e o pensar. Sou o narrador da história e só faltam uns bastidores para ser um filme melo-dramatico com um fim incerto e com um desenrolar um pouco doentio. Algo do género dos filmes como Fight Club ou qualquer outro que se possam lembrar.

Não! Não é sono, não é cansaço, olha é a merda de uma fotocopia da minha cara e pintada por cima por uma criança de 5 anos. É o facto do cansaço, ou lá o que isto é me por num estado de perplexidade aguda em que só dá vontade de ofender e de chamar: "És um/uma grande filho/a da puta!!" a quem sentir que merece tão precioso presente. A perplexidade faz-me num sacana nihilista, ou então no primo do Nietszche.

As novelas são as últimas se tudo correr como espero, os guionistas não acabam de escrever os resultados e a vida caminha na corda bamba que nem de fio é, é antes de ar. Já não há gripe, só há crise quando os telejornais ficam sem nada para dar, agora só dá solidariedade para com um povo esmagado desde os 1800's por todos nós, não muito é claro! Esmagado um bocadinho por todos nós. Afinal a polémica do casamento do mesmo sexo não foi um problema, é mais o casamento entre pessoas de sexo diferente, mas disso não se fala, não vá acordar-se o senhor da pátria, família e religião, cito: o caralho ( que não o tinha ) do Oliveirinha; ou alguma réplica do mesmo em forma de decorador de interiores mas que afinal é mais lider da oposição que os laranjas. Mas que oposição? Cópias de cópias de outras cópias.

Agora reparo o passado está colado na parede do meu quarto sob a forma de um X, também cópias de cópias de esse X estão no meu quarto, um X que foi uma cruz para quem a carregou, porque graças a algum dEUS, ás vezes estamos rodeados de criaturas pouco mentalmente hábeis, que são, adivinhem lá... Fotocopias de outras fotocopias que nem sabem quem são. Somos a geração dos 500€ dizem, eu digo que somos a geração dos meninos que nunca largaram a fralda mental. Os mesmos que hão-de estar a pagar para trabalhar e mesmo assim irão continuar a empinar o rabo no ar, tal como há séculos esta pequena colónia neo-consumista-liberal tem vindo a fazer e os resultados estão aí... Afinal é tudo uma cópia de outra cópia, que nem sabe quem é.