Wednesday, February 17, 2010

Preto e branco, escrita de papel

Foda-se Cristo, Alá, Buda e a equipa toda de deuses, semi-deuses, profetas e comentadores da bola. Inoperância realizavel através da doce busca do prazer venenoso de uma serpente, uma cobra-de-coral, rezemos para que seja uma falsa, senão já estou morto e ainda nem dei por isso. Deus um dia permitiu que viesse ao mundo e disse: "faça-se luz sobre a terra, bem aventurados sejam os homens entre aqueles..." e mais uma série de blasfémias dirigidas contra o próprio. A vida, as vezes, faz-me lembrar a route 66 dos Estados Unidos, ou aqui em Portugal qualquer estrada nacional toda esburacada no meio do Alentejo que acontece ser uma recta enorme. Sim, não considero que a vida tenha curvas, agora que está cheia de buracos está.

Voltei a escrever, não de forma inteligente, porque graças a todos os santos nunca o soube fazer, mas o que me importa é que voltei a escrever.

A barra do rectangulo de texto que me indica onde irá cair a próxima letra paira á minha frente. Aparece e depois desaparece, sempre no mesmo lugar se não lhe tocar. Pouco misterioso, pouco enigmático.

De tempos a tempos perco-me, perco-me em mim mesmo, mestre do destino que se conduz por essa enorme recta alentejana a que chamemos: vida. Já li algures, num desses livros de New Age que estar perdido significar evoluir. Se é verdade ou não... não sei, sei sim que o sentimento é exactamente o mesmo de quando nos perdemos em algum local que não conhecemos, só que desta vez não podemos perguntar ao policia preguiçoso, nem consultar o GPS. Temos mesmo que estar perdidos: engolir em seco, tentar clarificar a mente enquanto nos tentamos recompor de um tornado mental, rodopiar em vortexes mentais e talvez não emocionais.

Há toda uma magia nisto, um tanto ou quanto poética, será permitido armar-me em deus e poetizar toda o cenário mais um pouco? A luz fraca do candeeiro pende sobre a secretária, ou o que resta dela. Um copo de whisky na mão apoiada num dos braços da cadeira, a barba por fazer, um chapeu á cowboy a descair sobre o cabelo sujo e escuro, parece até que desliza, que pode cair-lhe da cabeça a qualquer momento. No canto da boca um charro de erva, as botas texanas impecavelmente sujas e desfeitas, as calças parecem-se com um trapo que rebolou em terra durante dias, a máquina de escrever no colo e no cabeçalho apenas "Para ti querida...", - presumo que me antecipei, deveria de ter deixado o sujeito escrever o nome da sua querida -, na mesinha ao seu lado, linhas branca e castanhas dançavam sobre o vidro, limão, colher, isqueiro, uma seringa a beijar o braço, o olhar gazeado, a boca entreaberta e espumosa, a cabeça a pender para a frente sem vida como... como se fosse cair que nem um martelo sobre a máquina de escrever.

Poetização do imaginário de um perdido que se encontra no meio de outros perdidos, mas pensam andar no caminho, não porra! Um perdido, poeta de imaginários, que se tenta encontrar numa terra de gente perdida que nem sabe que o está. Assim sim, era isto que queria dizer.

Roleta Russa. Dados. Ases de Espadas. 3, 2, 1.... e dá um murro em si mesmo. 4, 5, 6 dá a última passa neste enorme charro que é a vida. 7, 8, 9... 10 estou a encontrar-me no meio dos olhos gazeados do cowboy escritor...

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