Tuesday, June 04, 2013

Ritmos & Locuções

Caro Stephan,

O que fazer? Estamos perdidos neste lugar de desolação e poeira. Quando viram as novas chuvas? Os coiotes farejam o ar há procura de sangue para saciar a sua sede, mas aqui não há nada. Os relampagos ecoam em seco e toda a planicie estremece. Estaremos condenados a morrer neste lugar ou a fugir para pastagens com algo mais para dar a não ser pó.

Os tempos de glória estão longe e receio que não irão regressar, a minha cama está vazia há mais de dois anos e com ela toda a glória que é ter uma mulher presente na vida. Não só pelo sexo, mas pela intimidade e pelas conversas, pelas refeições quentes e pelos seios macios em que deitar a cabeça ao final de um dia de trabalho. Encontro-me aterrorizadamente sozinho. O Sparky, companheiro de uma vida, morreu há coisa de três meses. Pergunto-me o que faz um homem, com uma vida pela frente num lugar como este.

Passo os dias de caneta e papel, na esperança que algo de suficientemente bom surja e consiga publicar. Há meses que não recebo cartas de editoras, apesar de me deslocar à cidade todas as semanas. Eu vejo nos olhos deles, a mesma pergunta que me coloco todos os dias. "O que estou a fazer neste lugar?" Com certeza que uma cabana no meio de uma pastagem seca pode ser um bom leito de morte, mas não pretendo desaparecer tão cedo.

E tu, meu caro Stephan, o que tem acontecido na tua vida? Se me pudesses visitar seria um excelente presente, talvez trazer um garrafão de vinho ou então uma carta branca para sair deste lugar. Porque não me vens visitar? Compreendo, que as tuas obrigações enquanto chefe dos caminhos-de-ferro do Oeste te consumem muito tempo, mas ainda assim... Sinto a tua falta e das aventuras que passamos, enquanto jovens.

Falta-me força para ter algo mais sobre que te escrever. Ouvi do Jack há alguns dias, recebi uma carta dele, que agora está na corrida do ouro do Klondike. Contou-me de algumas histórias que estavam prontas a ser publicadas. Torço pelo sucesso dele, mas temo que as condições do Norte sejam demasiadas duras para o Jack, apesar de ele ter sido criado entre ratos e ferro.

Responde-me com brevidade, poderei já cá não estar quando receber a tua carta, por isso meu velho Stefan, escreve-me e se as tuas notas o permitirem traz-me uma mulher do bordel de San Fernando. Faz tempo...

Sinceramente,
Edward K.

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