Thursday, August 21, 2008

Cheio de...

Em todo o lado menos aqui. Tudo o que deixei para trás, tudo o que ficou por fazer. A nostalgia que se emancipa do meu ser, as paredes despidas e todo o espaço despromovido de objectos. Este quarto vazio, sem nada. Para lá da porta, memórias empacatodas em caixas de cartão. Dentro, acendo o cigarro, uma nuvem de fumo percorre o ar, desaparece tal como a minha vida se esvaneceu nestes 5 anos. Encosto-me à parede, ponho o cigarro outra vez na boca e fecho os olhos. Se me concedessem um desejo, então gostaria que a vida tivesse banda sonora, tenho a certeza que a esta hora Springfield estaria a tocar a sua guitarra, em acordes toscos e desafinados de "For What´s is worth". Isto porque porque nada valeu a pena, um canudo na mão, esperanças que caíram mal aqui entrei. É a verdade, todos os anos, todos os dias da tua vida te vão fazer promessas de sonhos irrealizaveis, o problema não é estes serem irrealizáveis, é fazerem-te promessas. A verdade não precisa de promessas, a verdade é apenas isso, a verdade, não necessita de suportes para que se possa tornar realidade. Quando te prometem algo, não contes com muito, é inerente á psicologia humana. Tal como quando te sentes desconfortável cruzas os braços á frente do peito, ou quando mentes os teus olhos não pestanejam, pelo motivo de teres medo que a verdade seja descoberta. Nestes 5 anos nunca pedi nada mais senão a verdade, não me dês amor, nem me enchas com o teu ódio, não quero a tua amizade, nem o teu sexo, dá-me a verdade. Em 5 anos foi o que pedi, a verdade, nunca me deram.

Deito o cigarro ao chão, apago-o com a sola das sapatilhas demasiado usadas, pego numa garrafa de cerveja prostrada no chão. Olho para ela e de seguida para a parede. Segundos depois os estilhaços do vidro percorreram o quarto, a parede continua intacta e eu com a respiração ofegante, com a frustração nos meus olhos, giro sobre o eixo imaginário do meu corpo, percorro com os olhos todas as paredes. Tudo vazio, tal como me deixaram. Cuspo no chão, fecho a porta atrás de mim, deixo a caixa de cartão abandonada, - talvez a merda dos diplomas e das menções honrosas dê mais jeito a outra pessoa do que me deu a mim. Desço as escadas. Reparo que ao entrar no hall vários conhecidos, com as suas familias, me cumprimentam com pequenos acenos com a cabeça. Olho. Sorrio. E retribuo o pequeno cumprimento. Atiro as chaves para cima da secretaria. Saío pelas portas principais do dormitório, coloco os óculos de sol, percorro o campus, abro o carro, ligo o motor e... e finalmente estou na estrada. Sem destino, não sei se morro ou se vivo, mas a verdade não me foi dada e por isso, nada disto vale a pena. Liberdade, á distância da verdade. Talvez fosse assim que estava destinado a ser, a verdade não foi dita, porque sem ela a liberdade seria inalcançável!

3 comments:

Anonymous said...

Cada vez melhor :')

Anonymous said...

Lutar contra a mentira com palavras resulta angustiante, com o dobro da tua idade ainda continuo empenhado nesse desafio, prova disso é o meu blog:
http://www.caparicaredneck.blogspot.com
O conteudo dos post do mês de Agosto, seguramente, interessar-te-ão.

Como escreve o Bunbury:

"cuando era pequeño me enseñaron
a perder la inocencia gota a gota
¡qué idiotas!
cuando fui creciendo aprendí
a llevar como escudo la mentira
¡qué tontería!

DE PEQUEñO ME ENSEñARON A QUERER SER MAYOR
DE MAYOR QUIERO APRENDER A SER PEQUEñO
Y ASí CUANDO COMETA OTRA VEZ EL MISMO ERROR
QUIZáS NO ME LO TENGAS TAN EN CUENTA

me atrapó el laberinto del engaño
con alas de cera me escapé
para no volver
cerca de las nubes como en sueños
descubrí que a todos nos sucede
lo que sucede!

Força!

Savonarola said...

Partir estrada fora, como fez Jack Kerouac, à procura de respostas sobre tantas mentiras. Talvez não se encontrem, mas enquanto o carro corre, o espírito voa.

Um abraço anarquista