Monday, August 07, 2006

Ilusões 1

Hoje acordo, continuo cheio de sono á mesma, mas acordo. Levanto-me e ainda visito o computador por uns momentos, re-leio o texto por uma vez ( coisa que agora estou a costumar fazer ) e não gosto dele, apago-o e começo outro texto de raíz. Foi assim que começou o meu dia, não gostei do texto, então se não gostei toca de apaga-lo! Á minha volta está tudo uma confusão pegada, a calculadora empilha-se em cima de cadernos e capas de DVD, óculos de sol e garrafas de soro fisiológico partilham o espaço. Mas no meio disto tudo quem continua senhor dos seus reinos é mesmo a máquina, intocável!, domina toda a secretária relegando para segundo plano os retratos da familia em tempos orgulhosamente expostos nesta mesma secretária.

Canetas, papeis, bocados de borracha que já fez o seu papel, montes de cd´s, e aqui permaneço eu. Perco os dias todos assim, de vez em quando coloco um DVD na televisão só mesmo para entreter. Perco dias assim, fechado no meu quarto, no meu apartamento em que sou o único ser vivo. Já não conheço a sala, já não de que cor são as paredes, só saíu quando vou comer qualquer coisa alí ao "Café Signora di Roma", saíu de casa e nem dou pelas cores das paredes e entro em casa com a mesma pressa. Os nós dos dedos já me doem de tanto escrever, a porcaria da caneta está a atrofiarme os dedos todos, papeis e papeis e muitos mais papeis diambulam pelo chão do quarto á medida que eu os piso sem lhes dar importância.

Há quase treze meses que a minha vida é esta, o primeiro livro ainda esteve bastante bem, cheguei a ser convidado para uma comissão cultural de uma terreola qualquer, onde estavam expostos cartazes com a minha cara e dizia Pedro Vilela. Já me deixei de isso á muito tempo, se me lembra-se como está a minha cara desenhada já não a deveria identificar como sendo o meu rosto. Há treze meses que estou aqui, perdi meses neste livro e nada me tem vindo á cabeça, começo a escrever o primeiro, o segundo, o terceiro capítulo, quando chego ao terceiro recomeço a ler os outros e não gosto de nada do que acabei de escrever, não têm outro remédio se não serem rasgados ou simplesmente abandonados pelo chão.

Vive-se longe do nosso país e não temos muito mais se não nós próprios, eu enclausurei-me neste apartamente e raramente saíu dele. Os primeiros três meses foram gastos só quase a pensar no que iria escrever, como, quem e onde; os outros nove foi a tentar escrever, a tentar alinhar as ideias. Numa ocasião consegui chegar até ao décimo capítulo, mas quando comecei a ler o dito fiquei furioso, não gostava do que ali estava!, desperdicei dois meses numa porcaria que agora anda a varrer o chão. Como esse agora já há muitos mais, quando me acontecem esses momentos de fúria para com os meus textos, paro de escrever durante uns dois dias, saíu de casa para ir andar pela cidade um bocado, bebo uns cafés. Mesmo assim quando estou na esplanada só penso na porcaria do livro, olho á minha volta e penso que tudo pode ser uma ideia para o livro. Há dias em que estou cá fora, a tentar espairecer das folhas e do cheiro a tinta, e quando olho para uma estátua, para qualquer detalhe que nunca antes tinha reparado, corro para casa, pego frenéticamente em folhas de papel numa qualquer caneta e começo a escrever sem pensar na próxima palavra.

Hoje parei mais uma vez de escrever, depois de tanto tempo, parece-me que cheguei a uma fase do livro em que faltam umas poucas páginas para a sua finalização. Parei de escrever, porque sei que me basta uma porcaria de uma letra para deitar tudo a perder. Os trezes meses, foram treze meses sem frustrações em que levei o livro até onde ele chegou hoje, os outros oito meses foram esquecidos apenas restam as recordações de folhas a varrerem o chão. Parei de escrever para ter a certeza de que vou escrever a seguir irá ser algo realmente bom, para acabar o livro em beleza. Depois de todo este tempo, talvez consiga mesmo ir para as bancas e volto eu a andar de um lado para o outro a promover o meu novo livro. Saío de Roma e volto para Portugal para descançar por um bocado, aí uns seis a doze meses de descanço, para voltar a mais um ano e tal de loucura e isolamento do restante mundo.

Acho que vou continuar a escrever, acho que sim, também é a única coisa em condições que sei fazer. Vou parar de pensar e voltar a escrever, estou morto para acabar este livro já não o aturo mais. Só quero que andem todos contentes com ele debaixo do braço enquanto eu tomo o meu café na paz dos deuses, sem ter que pensar em livros, em cadernos esfarelados, em cheiro a tinta nem a nada disso.

4 comments:

Judite Correia said...

Olá olá!
Grande texto! Adorei a o sentido de percepção das coisas mais banais, que podemos encontrar á nossa volta( óculos...folhas...borrachas, etc.)
Sim senhor! Vejo k este blog melhora a kada dia!!!!

João, não tenho palavras que possam alcançar a força e poder das que escreveste no texto, por isso, continua a escrever!

Bjinhus grandssssssssss****************

Anonymous said...

Se não relês o que escreves...
... tb eu tenho mais vontade de te ler do que te reler!!!
...soma e segue...
:)
a.

João Fernandes said...

Como eu detesto comentário em anonimo...podias dizer quem és já que o comentario ate foi simpatico.

Anonymous said...

bem , bom blog!


cumpz