Monday, August 20, 2007

Sombras

A luz do candeeiro é surpreendentemente fraca, mal ilumina o quarto. Cria sombras onde não costumavam existir, leva o quarto até um ambiente sombrio e que pode tornar-se facilmente afectuoso ao olhar. Pelas cortinas enturpecidas de pó já não entra mais luz, o sol já mudou de posição e agora lá fora a escuridão, negra e silenciosa reina. Quando desligo a lâmpada ainda se consegue ver umas luzinhas cor-de-laranja lá fora, ouve-se o som dos carros a trabalhar e as estrelas no céu já não são as que se poderia desejar para uma noite de Verão. Os ruídos próprios de uma cidade, a mesma que nos sufoca o cérebro, que nos mantêm acordados mas muito pouco vivos. As cidades deixaram de ser povoações em que todos conhecem todos, agora as cidades são inumeros blocos que se sobrepõem um sobre os outros na procura de espaço e nesses blocos que são pouco mais que uma gaiolas, cresce-se, vive-se. Vivemos sufocados uns pelos outros, vivemos a vida dos outros e a nossa muitas das vezes deixa de ter grande significado, alimentamo-nos de coisas pequenas, que vulgarmente não teriam qualquer utilidade, mas consomem-nos aos poucos, alimentam-se dos nossos pensamentos, e para o bem ou para o mal começam a controlar-nos.

Em Portugal as cidades assumiram um padrão global, como não poderia deixar de ser, a costa é sobre-povoada, andamos aqui todos a ver qual consegue consumir maior quantidade de oxigénio, deixamos de ter identidade, somos mais um na multidão, mais uma cabeça que é arrastada pela multidão. O que se tornou a vida nas cidades? Uma futilidade, nascemos e já somos colocados ao lado de duzias de outros pequenos individuos, vivemos dentro de estações em hora de ponta, de filas de automóveis, de momentos solitários complementamente descabidos, porque não há tempo para pensar e logo não podem haver complicações de maior. Fazemos todos o mesmo, ás vezes ao mesmo tempo e da mesma forma, copiamo-nos e parecemo-nos iguais. Temos os mesmos vícios e os mesmos gostos, as mesmas paixões e os mesmos ideais. Penso que quando nascemos e põem os míudos naquelas salas cheia de alcofas sintéticas, alimentadas a ar também sintético somos fotocopiados por outro tipo qualquer.
Por essa mesma razão deixamos de ser pessoas, somos bases de dados, contas, informações com números e letras, o que somos nós sem os cartões, sem os números e sem a identidade que não passa do papel? Somos tudo e não somos nada, aparentemente felizes e todos revoltosos, demasiado cautelosos e bravos em palavras para connosco.

Não somos nada e somos tudo, não passamos de sombras e pó, tal como a sombra se move quando se desloca o candeeiro, também nós nos movemos. Somos pó á espera de sermos sacudidos, somos sombras á espera da mudança, tal como quando tudo se modifica quando apagamos a lâmpada também nós desaparecemos quando o punho autoritário do governo se fecha sobre nós e aí, sem gritarmos, sem protestarmos só somos sombras e pó.

3 comments:

Anonymous said...

ó peido s n fores ó dragao enchu t esta merda d mensagens destas




:D

João Fernandes said...

tenho a impressão que já não vai ser preciso encheres isto de preciosidades como essa, sim em principio vou ao dragão.

beijinho ó a luaestalindahoje
ahahah

Anonymous said...

Adorei o texto :)

Fizeste com que um tema importante parece-se a coisa mais leve.

Está muito bem escrito.

Parabens